Durante seis horas e meia,
184 passageiros ficaram retidos no aeroporto de Salvador, no Brasil.
A SATA não tinha 43 mil euros em dinheiro
para pagar o combustível e a Shell não aceitava cheque.
Foi já duas horas e meia depois de fazerem o check in que os passageiros do voo da Sata que ontem (9 de Agosto) ligou São Salvador/Lisboa, vindo de Porto Seguro, receberam incrédulos a primeira informação da razão do atraso da partida: o depósito da aeronave estava vazio e não havia dinheiro para o encher.
Através dos altifalantes do aeroporto brasileiro foi anunciado que a Sata, companhia aérea açoreana, não tinha em dinheiro os 43 mil euros para encher os tanques com combustível e que, por seu lado, a petrolífera Shell não aceitava o pagamento em cheque. "Ouvimos pelo intercomunicador do aeroporto que a Sata não tinha dinheiro para reabastecer e seguiram-se horas de espera sem qualquer tipo de condições", diz ao Expresso João Dias, um dos passageiros do voo.
SANDES E MANTAS DISTRIBUÍDAS NA SALA DE EMBARQUE
Perante o cenário de desgaste físico e emocional das quase duas centenas de passageiros na sala de embarque - onde estavam vários casais com crianças muito novas - foi a própria tripulação do avião que decidiu distribuir sandes, água, mantas e almofadas, numa tentativa de criar condições mínimas para suportar a espera.
Só mais tarde, mediante a consternação de muitos dos passageiros, foram dadas duas hipóteses: ficar num hotel em Salvador, ou comprar um bilhete da TAP para viajar para Lisboa. "Disseram-nos que quem tivesse muita urgência para viajar para Lisboa seria melhor comprar um bilhete da TAP", conta Antero Campeão, outro passageiro.
ALEGADO ASSESSOR DO GOVERNO RESOLVE PROBLEMA
Depois da primeira comunicação os passageiros foram informados pelo aeroporto que a situação estava a tentar ser resolvida com a Shell do Rio de Janeiro. Perante a falta de soluções, os passageiros voltam a ser informados que foi contactada a embaixada portuguesa.
Por volta da uma da manhã os passageiros tomam conhecimento de que a situação foi resolvida através da intervenção do Governo, pela acção de um alegado assessor de um ministro português, que seria um dos passageiros do voo, mas que, no entanto, não foi identificado.
TRIPULAÇÃO ACEITA FAZER VOO FORA DE HORAS DE TRABALHO
Já resolvido o problema do abastecimento, os passageiros são informados que uma das hospedeiras teve de receber assistência médica durante o tempo em que o avião esteve a ser reabastecido. Novo atraso.
Depois disto, o comandante vem informar que apesar de a tripulação já estra fora do seu horário legal - previsto no contrato de trabalho com a Sata - aceita fazer o voo para Lisboa.
Esta informação do comandante criou muita apreensão entre alguns passageiros. "Houve um casal com crianças pequenas que preferiu não fazer o voo temendo pela segurança", recorda Antero Campeão.
No entanto, o co-piloto veio sublinhar junto dos passageiros que os "problemas entre a companhia e a tripulação" se prendiam "com questões laborais", deixando a garantia: "A segurança do voo não está, nem nunca esteve, em causa".
"BUROCRACIAS COM COMBUSTÍVEL" JÁ VINHAM DE PORTO SEGURO
Apesar do problema se ter verificado quando o avião foi buscar passageiros a Salvador, já na descolagem de Porto Seguro se tinham verificado "burocracias com o combustível".
João Dias partiu de Porto Seguro e conta que os passageiros tiveram de esperar antes de embarcar devido a "burocracias com o combustível". "Quando nos disseram isso pensámos que fosse um problema com os postos de abastecimento, nunca nos passou pela cabeça que não houvesse dinheiro ou que não aceitassem cheques na Shell".
SATA ADIA (POR HORAS) APURAMENTO DE RESPONSABILIDADES
A directora de comunicação da Sata, Natalie Bleqiere, afirmou ao Expresso que se tratou de "uma falha de comunicação entre a transportadora aérea e a Shell que não terá recebido uma factura de pagamento da companhia", garantindo que "segunda-feira se apurarão responsabilidades".
Sobre a maneira como a situação foi desbloqueada, a existência do referido assessor do Governo ou os contactos com a embaixada portuguesa, Nicole Blequiere não consegue, neste momento, confirmar nada.